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Blog do Mauro Beting

Nem São Paulo derruba São Paulo

Mauro Beting

06/07/2016 11h31

 Não joga Ganso, o melhor tricolor em 2016. Mas nem ele jogava o que vinha jogando quando o São Paulo perdeu para o The Strongest, no Pacaembu, na primeira rodada de grupos. 

Nem ele começou jogando em La Paz quando Wesley enfim estreou pelo São Paulo, na ultima rodada daquela fase. 

Joga Denis. E ele não tem sido o goleiro que é para substituir o que nem Rogério Ceni conseguiria substituir a si mesmo.

Se não foi Denis, jogou Maicon de goleiro em La Paz E de zagueiro. E de Lugano. E de torcedor em campo. Jogou tanto e se jogou demais pelo São Paulo que o clube gastou os tubos, moveu fundos e mundos para pagar preço impagável. Tão absurdo quanto o respeito e os jogos que ele ganhou por ser mais um são-paulino em campo. 

Maicon vai pro jogo com Rodrigo Caio. O jogador de seleção que é tratado como se fosse de condomínio por assessor do presidente. O prata da casa que tem pesado como chumbo para levar ferro por ser de Cotia. Não está fácil jogar pelo São Paulo. Ainda mais quando se é da casa. Ou do condomínio. Mas sempre parece ser menos difícil quando joga o São Paulo. 

Contra o ótimo Atlético Nacional, melhor time da Libertadores até a bola parar para a Copa América, Bruno vai ter de ser outro. Ou o que ele vinha sendo na recuperação tricolor. Como Mena terá de ser mais preciso para evitar as bolas cruzadas que seguem sendo letais contra a meta tricolor. Ainda mais contra ataque veloz. Embora sem o mesmo ritmo. 

Hudson de tantas superações talvez  não jogue. Mas Thiago Mendes é outro que voltou a jogar bem. Como João Schmidt. Prata da casa menos cobrado que outros que não foram no Morumbi o que ele ainda pode ser.

Como Michel Bastos voltou a ser o ótimo jogador que é. Ytalo pode ser em 2016 o que foi Amoroso em 2005, chegando em cima da hora para fazê-la no tri tricolor.  

Claro que aquele time era muito melhor. Ytalo não é Amoroso. Mas tudo é mais possível quando se veste essa camisa em Libertadores. É possível ganhar com pouco. Bauza já foi duas vezes campeão assim. Com um artilheiro inspirado como Calleri, fica menos complicado. Vestindo uma camisa como essa, ainda menos. 

São Paulo, amigos secadores, é impressionante. É o único santo com pacto com o tinhoso. 

Lembro o que escrevi quando enfrentou também o Atlético Nacional, na Sul-Americana de 2013:

A rica moeda são-paulina que tinha pinta de cair de divisão no BR-13 "caiu em pé". Como na célebre imagem criada há 73 anos quando do primeiro título do atual São Paulo FC. Então, campeões paulistas eram Corinthians e Palmeiras. Brincava-se que o Tricolor só ganharia um Paulistão se atirassem a moeda e ela caísse em pé. Como foi em 1943. E seria ainda em 1945-46, 1948-49.

Por tudo que o clube conquistou em São Paulo, Brasil, América do Sul e mundo desde a inauguração definitiva do Morumbi (1970), a moeda só cai em pé quando não sobe o Tricolor no pódio. Não é normal nos últimos 40 anos o clube ficar algumas temporadas sem títulos. Jamais havia passado risco real de queda no Brasileirão como aconteceu em 2013. 

Mas se outros rivais o ajudaram na ascensão na tabela pela má qualidade geral, o Clube da Fé fez a parte dele a ponto de fazer outras coisas impensáveis e improváveis no passado recente. Calando cornetas internas e enfiando no saco as trombetas do apocalipse tricolor.

"Time grande não cai" é máxima que são-paulinos, rubro-negros, colorados, cruzeirenses e santistas ainda podem usar. Não sei até quando em um futebol tão nivelado, achatado e igual para clubes desiguais.

Mas sei que vai ser preciso o São Paulo fazer mais jumentices e algumas juvenalices que em 2013 para cair [e faria muitas outras desde então]. Poucas vezes o clube errou tanto. E, ainda assim, acerta mais que os rivais na média e manda bem demais na recuperação. O que parecia um ano perdido e derrubado virou o jogo. Como só o Tricolor parece capaz. Apesar da enorme torcida contra.

Ser tão soberano em muitas conquistas, ser tão competente em muitas competições, acaba criando essa torcida contrária, potencializada pela soberda assumida pelos seus próceres e paredros (para usar termos juvencionais). Mas só a vontade alheia ainda é pouco. Parece que quando as coisas desandam no Morumbi, Poy, Valdir Peres, Zetti e Rogério fecham a meta, Mauro, Bauer, Dias, Oscar e Dario Pereyra trancam a área, Sastre, Zizinho, Gérson, Pedro Rocha, Pita e Raí pensam o jogo, Friedenreich, Leônidas, Toninho Guerreiro, Serginho e Careca fazem os gols.

Nem alguns são-paulinos derrubam o São Paulo do Morumbi."   

Foi assim em 2013. Tem sido em 2016. 

E ainda pode ser logo mais. 

Desde 1992 é preciso respeitar as noites de Libertadores no Morumbi. Desde 1930 é ainda mais necessário respeitar os dias de SPFC.   

Sobre o Autor

Mauro Beting é comentarista do Esporte Interativo e da rádio Jovem Pan, blogueiro do UOL, comentarista do videogame PES desde 2010. Escreveu 17 livros, e dirigiu três documentários para cinema e TV. Curador do Museu da Seleção Brasileira, um dos curadores do Museu Pelé. Trabalhou nos jornais Folha da Tarde, Agora S.Paulo e Lance!, nas rádios Gazeta, Trianon e Bandeirantes, nas TVs Gazeta, Sportv, Band, PSN, Cultura, Record, Bandsports, Foxsports, nos portais PSN, Americaonline e Yahoo!, e colaborou nas revistas Placar, Trivela e Fut! Lance. Está na imprensa esportiva há 28 anos por ser torcedor há 52. Torce por um jornalismo sério, mas corneta o jornalista que se leva muito a sério

Sobre o Blog

O blog fala, vê, ouve, conta, canta, comenta, corneta, critica, sorri, chora, come, bebe, sofre, sua e vive o nosso futebol. Quem vive de passado é quem tem história para contar. Ele tem a pretensão de dar reload no que ouvi e li e vi e fazer a tabelinha entre passado e presente para dar um toque no futuro.

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