Até o apagar da velha chama. Os manos pira!
Sei que a água é água, embora possa não ser inodora, insípida e incolor. Que adubo é adubo, MC Biel é MC Biel, e vice-versa, embora nem tudo que versa é vice.
Mas o fogo, de fato, é mesmo fogo.
A tocha é rocha. Mancha. Brocha. É o bicho, animal. Queima. Esquenta. Aconchega. Acalenta. Esturrica. Esmerilha.
Tem quem acha trouxa quem trouxe o espírito olímpico. É fogo agradar a gregos e troianos desde os jogos olímpicos da antiguidade. Queima os olhos ver ex-craques dos esportes preteridos por escroques nacionais na condução do estandarte. Incinera a alma o desfile comercial de potestades e prepotências. Inflama a dignidade saber quanto deixamos de fazer, quanto deixamos eles fazerem.
Chamusca muita coisa privada nessa cidade falida pela administração pública. Cresta da janela ver o Redentor que lindo na crise da onda que se ergueu no mar e afogou ciclovia. Tosta o cidadão desalojado pelo projeto olímpico de ganhar medalha, medalha, medalha como se fosse Mutley. Tisna o planejamento urbano que faz do pódio um palanque, da palafita a plataforma.
Funde o cofre com saltos orçamentais. Danifica o apartamento disfuncional. Desbarata a zica e zica as baratas. Dilapida o patrimônio. Malbarata o caro. Esbanja o que não pode. Dissipa o que não deve. Liquida o que não paga e não tem preço.
Carboniza o presente e crema o futuro. Creme de lá, crime daqui.
Desprestigia o Pan. Aborrece os pais e mães. Zanga o Paes. Tosta os paes da Austrália e os netos do mundo.
Desacredita a luz do fogo. Arde a inspiração dos atletas que se importam não só em competir. Se importam com o legado largado. Com o delegado que manda prender e não manda soltar. Com o respaldo abrasado da oportunidade apagada com a pira.
Fogacho perdido pelo jeitinho de achar que não tem jeito. Lumieira sem eira e só bobeira. Facho sossegado do povo que só se levanta para gritar gol. Ou para xingar quem não é ouro.
Ferro fundido no tacho do capeta. Fulguras ó Rio florão da América. Iluminado ao pré-sal do velho mundo.
Fogo que é pileque de adulto e moleque. Porre de quem leva porrada da vida. Foguete de quem tem artifício, mas que dá xabu com fogo amigo.
Das estrelas e medalhas que não vamos esquecer de contar, tem muita história linda. Da primeira vez era a cidade maravilhosa. Da segunda, o caos e a eternidade que esquecemos de orçar.
O resto é mar.
Chamo a consciência de que os jogos vão começar. Mas a nossa maratona não acaba quando a pira se apagar.
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