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Blog do Mauro Beting

Pai de atleta

Mauro Beting

15/08/2016 13h54

Um pai quer dar o mundo ao filho. A mãe dá a luz e a própria vida por ele. O pai quer empatar o jogo e dar o que tem, o que jamais terá, e o que não deve dar. Mima mesmo por não ser Mamma. É Babbo babão e muitas vezes "estraga" a prole. Como se dar tudo e mais tudo fosse ruim. 

Mas aprendemos que é. Ao dar o planeta não damos a educação suficiente. Ao não deixar crescer diminuímos. Por isso o esporte é tão importante. Ensina a perder, a saber ganhar, e entender os empates na vida – outro ponto onde o futebol é campeão. Aprendemos regras pelo esporte. Punição por desrespeitar. Como driblar. Como torcer. Como tolerar. Como viver e sobreviver. 

Pai tem a sagrada missão de ensinar o filho a amar cores. Por vezes, até, a desprezar rivais. Não pode. Mas a gente sabe que acaba podendo. É futebol. A mais perfeita imperfeição criada pelo falível ser humano. 

O pai quer dar o mundo. Não consegue. Pode até se frustrar. Mas uma coisa ele sabe de cada atleta que não foi bronze, prata e ouro. Cada ferro tomado na Olimpíada é pódio para quem não podia exercer o pátrio poder dos filhos da pátria. 

Cada derrota (ou não vitória) no Rio-2016 é goleada para os pais dos atletas que sabem o que fizeram e o que os rebentos fazem para estar competindo. Horas sem dormir, dores que não deixam dormir, verbas curtas, treinos longos, lazer que vira dever, folga regrada, vida espartana para o esporte. 

Tudo que os pais dam e doam aos filhos, os pequenos precisam ser gigantes desde crianças. Alguns vão acabar sustentando os pais. Dando materialmente a eles mais do que todos puderam sonhar. São filhos provedores. Crianças superpoderosas. Inversão de papéis. 

Mas ainda crianças. Elas só querem o abraço dos pais nas derrotas. Como Diego quando caiu em Pequim. Como a imensa maioria que, como ele, não teve revanche. Segunda vez. Ou mesmo a terceira. 

Esses pais são campeões sem medalhas. São os que sabem o que os filhos fizeram para estar numa Olimpíada. O que deixaram de fazer na vida por essa chance. Não ganharam medalha. Mas conquistaram mais do que os que nem tentaram. Mais do que os que não conseguiram. Muito mais do que os que desconhecem, desprezam ou ignoram pela própria ignorância. 

Dia dos Pais olímpicos não é homenagem. É dever. Junto com a bandeira de cada país no pódio tinha de subir a foto dos pais. No momento de cada derrota, o atleta teria o direito inalienável do colo e do calor dos pais ali mesmo. 

Não é mimar. É amar. Não tem condição. Muito menos condição de suportar o fracasso sem os pais por perto. 

Aos perdedores, os pais. 

   

Sobre o Autor

Mauro Beting é comentarista do Esporte Interativo e da rádio Jovem Pan, blogueiro do UOL, comentarista do videogame PES desde 2010. Escreveu 17 livros, e dirigiu três documentários para cinema e TV. Curador do Museu da Seleção Brasileira, um dos curadores do Museu Pelé. Trabalhou nos jornais Folha da Tarde, Agora S.Paulo e Lance!, nas rádios Gazeta, Trianon e Bandeirantes, nas TVs Gazeta, Sportv, Band, PSN, Cultura, Record, Bandsports, Foxsports, nos portais PSN, Americaonline e Yahoo!, e colaborou nas revistas Placar, Trivela e Fut! Lance. Está na imprensa esportiva há 28 anos por ser torcedor há 52. Torce por um jornalismo sério, mas corneta o jornalista que se leva muito a sério

Sobre o Blog

O blog fala, vê, ouve, conta, canta, comenta, corneta, critica, sorri, chora, come, bebe, sofre, sua e vive o nosso futebol. Quem vive de passado é quem tem história para contar. Ele tem a pretensão de dar reload no que ouvi e li e vi e fazer a tabelinha entre passado e presente para dar um toque no futuro.

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