Que defesa de Bruno!
Não sou o caríssimo amigo Datena para falar tão bem de futebol e de polícia. Não sou tão bom e corajoso quanto o caro Juca para cobrar e cobrir esporte e justiça.
Mas vou aqui escrever como cidadão. Mais do que como jornalista esportivo.
Libertadores-10. 5 de maio. Pacaembu. Corinthians 2 x 1 Flamengo. Rubro-negro classificado. Muito pela defesa espetacular de Bruno em cobrança de falta, no final. Cabine da Rádio Bandeirantes. O goleiro do Flamengo conversando com Alexandre Praetzel no vestiário carioca, e Milton Neves no estúdio.
Peço pro Abrão amigo da técnica dar um toque lá pra emissora. Pedir para o Milton não me chamar para fazer pergunta ao Bruno, ótimo goleiro, embora muito pulador para o meu gosto. Prefere sempre o salto desnecessário para jogar para a galera do que a defesa mais segura para um jogador Questão de estilo. Não gosto. Mas não é crime.
Foi a única vez em 25 anos de rádio e TV de futebol que não quis falar com um entrevistado.
Não sabia o porquê de meu preconceito. Mas, enfim, não gostava da figura. Fiz o elogio devido a uma excelente atuação. Mas não queria papo.
Foi a única vez. Até com tipos piores (na esfera esportiva) já entrevistei, debati, discuti, briguei. Fui processado três vezes.
Mas nunca não quis falar com alguém.
Brasil 0 x 0 Portugal. Durban, 25 de junho de 2010. Menos de dois meses depois. Copa na África do Sul. Intervalo de um jogo chocho. A coordenação da rádio fala lá do Brasil para José Silvério, Leandro Quesada e eu ouvirmos na África: "Vamos entrar com um boletim do jornalismo. O goleiro Bruno do Flamengo está sendo acusado de ter desaparecido com a amante".
Minha reação?
A mesma se a produção tivesse dito: "Dalai Lama ganhou o Nobel da Paz"; "Gisele Bundchen foi eleita a modelo brasileira mais bonita"; "Pelé foi eleito o maior craque da história de Três Corações".
Não fiquei chocado. Estarrecido. Surpreso. O mais triste: muitos que o conheciam e com ele conviveram também tiveram reação semelhante.
Não é pecado. Mas a sensação até hoje é de que pequei.
Algumas vezes penso o porquê da minha reação. E agora mesmo o porquê de contar tudo isso. Não tenho sensibilidade ou conhecimento além de minhas limitações. Mal acerto placares de jogos. Costumo avaliar mal pessoas do mal. Procuro sempre ver o lado bom das coisas e das pessoas mesmo que não sejam "do bem".
Mas Bruno, desde sempre, não me parecia do bem. Nunca, claro, tão do mal. Mas do bem, não mesmo.
Quase que não posto o texto. Quase nunca falei a respeito.
Mas é que hoje, com o noticiário que chega, com a possibilidade de ele ser "perdoado" sabe o lá o diabo por quais tecnicalidades, por quais leis e regras, comportamentos ou conveniências, eu resolvi escrever como cidadão. Como alguém que tem pai, tem mulher, tem filho. Alguém que erra como qualquer um nesta vida.
Mas alguém que não tira a vida de alguém.
O Brasil está tentando mudar. Está buscando usar um raio moralizador que, pela própria pretensão, mais moraliza por um lado que pelo outro. Tem muitos defeitos. Mas ao menos coloca para dentro do cárcere e pra fora do cartel os cardeais de sempre.
Só que quando chega uma notícia como essa, com tanto processo que precisa ser processado, com tantos processados que precisam ser punidos, e com tantos não culpados por vezes esperando por mais justiça, o relaxamento da detenção de Bruno é a detonação de mais uma bomba que até pode ser legal. Mas jamais legítima.
A maior defesa da carreira de Bruno foi feita pelo ministro do STF.
Muitas vezes, os doutos magistrados praticam onanismo jurídico. Em vez de seguirem a consciência de criança, seguem como fundamentalistas apenas o que aprenderam na academia.
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