Mais que um jogo. Barcelona 6 x 1 PSG.
Seguir os nossos sonhos não é uma boa coisa. Eu, por exemplo, não lembro nunca o que sonhei. E aí? Para quem sabe o que sonhou, talvez não seja uma boa sair pelado pra escola, ver o céu laranja, e cantar como Lady Gaga na aula de física, saindo da escola num foguete para Aldebaran.
Mas seguir os nossos desejos, quem nunca?
Neymar desde criança queria ser Barcelona. Com 13 anos poderia ter sido Real Madrid. Bateu o pé. Seguiu o desejo consumado em 2013.
Dizem que ele só será o que deseja – mais do que sonha – quando Messi parar. Ou quando Cristiano pendurar as chuteiras. Será?
Nem em sonho, dizem os não poucos detratores, o Neymar Júnior será o maior do mundo com Messi ao lado. Para muitos, ele é mero "coadjuvante". (Ainda que, para mim, Neymar seja um ator coadjuvante como o que venceu o Oscar de 1975 – Robert de Niro, como o jovem Vito Corleone, em "O Poderoso Chefão 2").
Neymar que vinha postando que o Barcelona dele tinha "1% de chance" de remontar o 4 a 0 do PSG em Paris. Mas ele dizia que tinha "99% de fé" na virada.
Eu só achava possível por ser o Barcelona. Por acreditar que Messi, Suárez, Neymar e Iniesta, nessa ordem, poderiam superar a melhor partida da história do clube francês, na ida. Mas não acreditava muito em Luis Enrique. Já não vinha crendo naquilo que vinha cedendo o Barça até quando vencia.
O treinador se despede ao final da temporada que ainda não acabou. Disse que sairia, como se esperava, e como se faz necessário.
Mas mudou taticamente a equipe. Sacou os dois laterais. Deixou o pétreo 4-3-3 de lado. Abriu Rafinha pela ala direita no lugar de Sergi Roberto (guarde esse nome). Sacou Alba da outra lateral. E, sem a bola, obrigou Neymar a acompanhar o lateral rival. Uma espécie de 3-3-1-3.
Sim. Neymar não foi mais ponta. Foi quase um ala-esquerdo sem a bola. Teve de marcar como jamais fizera na carreira. E acabou marcando uma partida que jamais será esquecida na Europa e no mundo conquistado pelos pais da bola.
O PSG veio no 4-1-4-1 bem fechado, de linhas recolhidas. Mas mais temeu que respeitou o Barça. Não apenas pelo gol no primeiro minuto de Suárez, que mais pareceu lance do último segundo dos tempos. Temeu por parecer tremer.
Zico, definitivo, na transmissão do Esporte Interativo: "o PSG não jogou sem alma. Jogo com medo".
No fundo, o PSG queria mesmo era ter vencido por 3 a 1 em Paris para perder por 2 a 0 na Espanha. Seria melhor para o clube e para todos que a dor assim pungente que foi o que se veria com o time de Verrati.
Maldita goleada ao som da Marselhesa! Maldito gol de Cavani no Camp Nou!
Porque o jogo não estava assim tão perdido. Depois do primeiro gol, o Barça até chegou. Mas não muito. Rafinha sentia a falta da perna direita. Messi não se achava por dentro e não era encontrado pelo perdido Rakitic. Busquets aportava muito. Os três zagueiros culés eram os primeiros armadores blaugranas. Mas faltava algo.
Compensado pela arbitragem polêmica. Deniz Aytekin teve a chance de marcar o maior pênalti do jogo quando Mascherano abriu os braços em carrinho penal. Seguiu. Poderia ter marcado outro em Neymar, que eu não marcaria. Além de um confesso de Mascherano em Di Maria.
Mas, no gramado, era marcável o lance do terceiro gol, quando Neymar foi esperto ao buscar o toque que Meunier propiciou ao obstruir o brasileiro – mesmo caído. Também era marcável o pênalti que Marquinhos cometeu ao deixar o braço no pescoço de Suárez (lance que eu não teria anotado como infração). Outra infantilidade do ótimo zagueiro brasileiro, que bobeou no lance que Iniesta genialmente deu de calcanhar para nascer o segundo gol espanhol. Gol contra.
Eram 4 minutos do segundo tempo quando saiu o terceiro gol. Parecia natural o quarto até Unai apostar em Di Maria. Fazendo o PSG enfim perder o medo e diminuir numa bomba de Cavani, que Ter Stegen só levantou o braço como se fosse Neuer. E não é mesmo.
Como se tudo acabasse ali. E tudo parecia mesmo dois minutos depois, aos 18, quando os pés do goleiro alemão sonegaram o segundo do atacante uruguaio. Cavani que mandara quatro minutos antes uma bola na trave.
Turam já estava em campo. Sergi Roberto, também, aos 31. Neymar poderia não estar mais, depois de um pontapé que foi amarelo mas poderia ter sido vermelho. Mas parecia mesmo que, se entrassem Kubala, Kocsis, Evaristo, Cruyff, Neeskens, Stoichkov, Romário, Figo, Rivaldo, Xavi, Ronaldinho, Henry, Ibra, todos juntos, ainda assim não sairiam os três gols.
Afinal, nem Messi estava como Messi. Fez o terceiro, em pênalti seco. Mas só conseguiu um daqueles lances que ele faz uns quatro por jogo (e os mortais uma vez em sonhos) e mandou para fora, aos 28 do segundo tempo.
Aos 31, parecia tudo definido. Até porque Di Maria estava em todos os cantos. E quase diminuiu aos 36. Estava tudo tão dominado pelo PSG que o Camp Nou (que jogava como poucas vezes se viu ou foi preciso) estava calado quando Di Maria fez falta desnecessária em Neymar.
Bola que o brasileiro jogou no ângulo de Trapp. Goleiro que não esticou os braços para praticar a defesa que seria dificílima pela qualidade de falta de Neymar.
42min23s. 4 a 1 Barcelona. Ainda faltavam dois gols. Um para cada minuto regulamentar.
A celebração foi contida. Nem aquela corrida para pegar a bola no fundo da meta se viu. O Barcelona não acreditava. O torcedor aplaudiu a beleza da falta. Nem a mídia dourou a pílula. Todos sabiam que estava definido. Daria PSG. Sofrido. Mas PSG.
E não seria demérito ser goleado. Nem fim do mundo. Na Libertadores de 1995, o Grêmio deu de cinco no Palmeiras na ida. Na volta, tomou 5 a 1. E seguiu para ser bicampeão.
O 4 a 1 estava ainda nas contas francesas. Os catalães contando erros na ida e na volta para lamentar a eliminação quando Suárez se atirou. O juiz viu algo mais naquele braço de Marquinhos.
Pênalti que Messi deu a Neymar a responsa da batida. Como se passando a bola e o cetro. Ou apenas um gesto de fraterna solidariedade. Toma, faz mais um, e a gente sai de cabeça erguida.
5 a 1. 45min06s. Neymar corre e pega a bola lá no fundo. Logo depois o árbitro dá mais cinco de acréscimo. Pareceu muito para os padrões europeus.
Mas foi quase nada pelo que se viu aos 49min40s. No segundo da foto acima. Quando Neymar foi gigante, foi o craque que é. Mais. Foi o adulto que ainda não tem idade para ser. Como um veterano, lançou por sobre a zaga do PSG a bola para o novo reserva Roberto se atirar, se arriscar, e fazer o mundo aturar a beleza do espetáculo.
Mais uma negação do improvável. Mais uma desmoralização do impossível.
Talvez alguém possa ter sonhado com esse desfecho. Delirado com esse placar.
Mas isso não é sonho. É desejo. O Barça quis. Mais que acreditasse. Ele tentou. Mais que poderia. E conseguiu. Vencendo o PSG em sua mais triste noite. Goleando o futebol em mais uma história com final feliz. Independente de mocinhos e bandidos.
E dos atores. Principais ou coadjuvantes.
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