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Blog do Mauro Beting

Fluminense 3 x 2 Flamengo. RJ-95.

Mauro Beting

05/05/2017 13h18

 

ESCREVE GUSTAVO ROMAN

 

A barriga de Renato deixa o Flamengo a ver navios no ano do "sem ter nada" de 1995

Seguindo com a nossa sessão nostalgia, vamos relembrar agora duas "decisões"entre Flamengo e Fluminense. A primeira, essa de 1995. A segunda, a de 1991. Apertem o cinto, se ajeitem na poltrona e curtam mais essa viagem no tempo.

                                             Como foi o Campeonato

O Carioca de 1995 foi um dos mais emocionantes de toda a história da competição. O Flamengo, no ano do seu centenário, surgia como grande favorito. Afinal, havia se reforçado com jogadores como Branco e principalmente o baixinho Romário. Eleito o melhor jogador do planeta, o atacante deveria ser mais do que capaz de levar o rubro negro ao título. O Vasco, que a época brigava pelo tetracampeonato, tinha em Valdir Bigode seu principal nome. O Botafogo, contava com os gols de Túlio e com a base do time que seria campeão brasileiro mais tarde naquele ano. E o Fluminense era o patinho feio dos quatro grandes. Pouco se reforçara. Trouxe o zagueiro Lima do Sport. E tinha como principais estrelas Renato Gaúcho, Aílton e Djair.

A competição foi divida em duas fases. Na primeira, as 16 equipes formaram dois grupos de oito. Jogavam dentro da sua chave, em turno e returno. O vencedor de cada turno levaria um ponto extra para a fase final. O primeiro colocado de cada grupo faria a final da Taça Guanabara e levaria um ponto extra para o octogonal final. O campeão dessa fase acabou sendo o Flamengo. Num jogo emocionante, o time da Gávea bateu o Botafogo por três a dois. Com três gols de Romário.

No octogonal final parecia que o rubro negro iria disparar para o título. Enquanto ele vencia, os rivais tropeçavam. O Fluminense, por exemplo, foi o único dos grandes que não conquistou nenhum ponto de bonificação. Enquanto o Flamengo já entrava com três e Vasco e Botafogo com um cada, o tricolor começaria do zero.

E foi num clássico diante do Vasco que a sorte tricolor começou a mudar. A equipe tomou o primeiro gol. Empatou. Tomou o segundo. Mas mostrando um espírito vencedor e uma raça até ali não vistas, conseguiu a virada. Era a senha para uma arrancada sensacional. Graças a um sólido sistema defensivo. Wellerson estava sem ser vazado a 692 minutos.

                                                        Porque é histórico

Não foi uma decisão entre os dois rivais. Mas a derradeira rodada do octogonal marcou o fla x flu para o Maracanã. O time de Romário e Luxemburgo jogava pelo empate. Ao Fluminense só a vitória interessava. E diante do que aconteceu nos mais de noventa minutos de bola rolando a partida entrou para a história como um dos clássicos mais emocionantes de todos os tempos.

                                                 Ficha da partida

Fluminense 3 x 2 Flamengo

Local: Maracanã   Data: 25/06/1995   Público: 112.285 pagantes. 120.418 presentes

Árbitro: Léo Feldman   Cartões Vermelhos: Sorlei, Lira, Lima e Marquinhos

Gols: Renato, aos 30 e Leonardo, aos 42 do 1 tempo. Romário, aos 26. Fabinho, aos 32 e Renato, aos 42 do 2 tempo

Fluminense: Wellerson, Ronald, Lima, Sorlei e Lira. Marcio Costa, Aílton, Djair e Rogerinho (Ézio). Renato e Leonardo (Cadu). Técnico: Joel Santana

Flamengo: Roger, Marcos Adriano (Rodrigo Mendes), Gelson, Jorge Luiz e Branco. Charles, Fabinho, Marquinhos e William (Mazinho). Romário e Sávio. Técnico: Vanderlei Luxemburgo

O Jogo, lance a lance

Choveu muito no Rio de Janeiro no dia da decisão. O gramado estava pesado. Mas a bola rolava sem grandes problemas. Mesmo com a água que insistia em cair forte. O retrospecto recente era favorável ao Flu. Em três jogos pela competição, um zero a zero e duas vitórias. Três a um e quatro a três.

A primeira oportunidade do jogo foi do tricolor. Aos 15 minutos, Ronald cruza a bola. Leonardo, de costas pro gol, desvia de cabeça e Roger faz grande defesa antes de Marcos Adriano afastar para escanteio. O jogo era bastante truncado. Bem marcado, Romário pouco aparecia. Aliás, o baixinho ainda não havia marcado uma vez sequer contra o flu.

Aos 29, saiu o primeiro gol do Fluminense. O ataque veio pela esquerda. Rogerinho levou e tocou para Renato. O camisa sete dominou e finalizou por baixo de Jorge Luiz, que chageva no carrinho. Roger nada pode fazer Um a zero para o tricolor.

O Flamengo sentiu o golpe. Aos 33, Lira cobrou falta da esquerda. A zaga afastou. Aílton bateu de primeira. Roger defendeu com dificuldades. Aos 42, o segundo gol. Chute de longe de Marcio Costa. Roger falhou e soltou a bola. Jorge Luiz se precipitou e tentou afastar. Mas mandou a bola nos pés de Leonardo. O atacante só teve que tocar para as redes e sair pra comemorar. Dois a zero!

Análise do primeiro tempo: No campo encharcado foi difícil jogar. Apesar de a drenagem funcionar bem. Só o Fluminense quis jogo. Só o tricolor jogou. O Flamengo, passivamente, assistiu apenas. Resultado justo.

Segundo Tempo

Luxemburgo voltou do intervalo com duas alterações, o que era permitido na época. Não tinha escolha. Precisava mudar. Sacou Marcos Adriano e William. Pôs em campo Rodrigo Mendes e Mazinho. Passou Fabinho pra lateral direita. Abriu o time.

O desenho do jogo era claro. O Flamengo atacava. O Fluminense se fechava e tentava explorar o contra ataque para dar o golpe final. A chuva deu uma trégua. O gramado ficou mais seco. E a partida melhorou. Rodrigo Mendes atuando pela meia esquerda deu suporte a Sávio.

Aos dez, Djair avançou sem ser incomodado e arriscou de longe. A bola passou tirando tinta da trave direita. Aos 18, Branco cobrou falta de longe. A pelota foi de encontro ao travessão, com Wellerson completamente batido.

O rubro negro apertava. Aos 23, Sávio foi a linha de fundo e cruzou. Wellerson se esticou todo e conseguiu desviar antes que Romário finalizasse. Três minutos depois, não teve jeito. Charles bateu de longe. A bola desviou na zaga e foi na direção do baixinho. O camisa onze bateu de perna esquerda e diminuiu a desvantagem. Dois a um. Na comemoração, Marquinhos foi tentar pegar a pelota nas redes para recomeçar rapidamente a partida. Sorlei tentou impedir. Os dois se estranharam e foram expulsos pelo árbitro Léo Feldman.

Joel passou Marcio Costa para a zaga. Com mais espaços, o jogo melhorou ainda mais. Aos 30, saiu Leonardo e entrou Cadu. Um volante por um atacante. Aos 33, Sávio cruzou da esquerda. Fabinho dominou, cortou de uma só vez três marcadores e bateu forte, de perna esquerda. O tiro bateu Wellerson e foi no cantinho. Dois a dois. O título mudava de mãos e agora era do rubro negro.

Imediatamente, Joel sacou Rogerinho e pôs Ézio em campo. Aos 35, Lira deu uma entrada criminosa em Fabinho e foi expulso. O Fluminense ficava com nove jogadores. E precisava de um gol para ser campeão.

Um minuto depois, Rodrigo Mendes driblou dois marcadores e bateu forte. Wellerson defendeu e evitou a virada. O tricolor parecia entregue. Era só impressão. Aos 42, Aílton recebeu nas costas de Branco. Cortou Charles pra cá. Cortou novamente pra lá. E bateu. A bola não entraria. Mas havia a barriga de Renato Gaúcho no meio do caminho. Uma barriga alimentada pelo patrocínio de uma famosa churrascaria carioca. Que ele fazia propaganda usando uma faixa de cabelo. Três a dois. Só o futebol poderia proporcionar emoções como essa.

Já nos acréscimos, Lima também foi expulso, deixando o flu com oito jogadores, dois a menos que o Flamengo. Mas que pareciam ser oitocentos. Tomados por uma raça e um coração poucas vezes antes vista. O Rio de Janeiro era tricolor. Com imensa justiça. Com enorme orgulho. E com uma barriga que entrou para a história.

 

ESCREVEU GUSTAVO ROMAN

Sobre o Autor

Mauro Beting é comentarista do Esporte Interativo e da rádio Jovem Pan, blogueiro do UOL, comentarista do videogame PES desde 2010. Escreveu 17 livros, e dirigiu três documentários para cinema e TV. Curador do Museu da Seleção Brasileira, um dos curadores do Museu Pelé. Trabalhou nos jornais Folha da Tarde, Agora S.Paulo e Lance!, nas rádios Gazeta, Trianon e Bandeirantes, nas TVs Gazeta, Sportv, Band, PSN, Cultura, Record, Bandsports, Foxsports, nos portais PSN, Americaonline e Yahoo!, e colaborou nas revistas Placar, Trivela e Fut! Lance. Está na imprensa esportiva há 28 anos por ser torcedor há 52. Torce por um jornalismo sério, mas corneta o jornalista que se leva muito a sério

Sobre o Blog

O blog fala, vê, ouve, conta, canta, comenta, corneta, critica, sorri, chora, come, bebe, sofre, sua e vive o nosso futebol. Quem vive de passado é quem tem história para contar. Ele tem a pretensão de dar reload no que ouvi e li e vi e fazer a tabelinha entre passado e presente para dar um toque no futuro.

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