Marcão do povo e os que defendem sem precisar atacar
Marcão, você lembra dessa foto. Faz pouco mais de 5 anos, na casa do Cafu. Quando eu tirei, disse pra vocês: "os dois caras que melhor me defenderam na vida". Menos de cinco meses depois o meu Babbo partiu. Sobrou pra você, Marcão! Segura mais uma aí! A nossa sorte é que quem cuida do seu coração (além da Sonia e dos seus) é quem cuida do meu também (além da Sil e dos meus). É o doutor Cesar Jardim. Craque. Indicado por outro craque, o Rubens Sampaio. Por mera coincidência, todos doutores palestrinos.
Na véspera da sua operação eu passei consulta com o doutor César. Horas antes do jogo com o Flamengo. Quando o Jailsão da Massa jogou como e pelo Prass. Como você. Tô sabendo que você fica zoando o Jailson por causa de uns títulos a mais do que ele que você conquistou… Mas aí o anjo negro da nossa guarda manda pra você: – E você já ganhou um Brasileiro invicto?
É, Marcão… Ponto pro Jailsão da Massa. Mais um digno herdeiro de suas mãos. Ou melhor: do seu coração. Ele é verde. Doutor, eu não engano, seu coração é palmeirense.
Por isso sofre quando ganha, quando não ganha. Por isso quase teve de trocar a válvula. Mas não precisou. O doutor sabe o que faz. E, se precisasse trocar alguma coisa, tinha mais gente para te dar um outro coração do que aqueles mais de 8 mil que foram pegar seu autógrafo no lançamento do nosso livro, lá em 2012.
Não eram só irmãos de credo e de cor na última vez que meu pai saiu de casa sem ser para o trabalho. Eram fãs da pessoa mais que do goleiro do rival. O que tinha de não-palmeirense que ficou dez horas na fila por um autógrafo seu era absurdo. Do tamanho da corrente de gente que reza para você, vagabundo, sair daqui uma semana e voltar pra continuar trabalhando duro para não fazer merecidamente nada.
Sorte nossa que temos o doutor César para tratar dos nossos corações tão bem cuidados por nossas famílias. Sorte nossa que há 25 anos chegou ao Palestra um cara que tem no peito tudo aquilo que não se troca.
Outra coisa:
Qualquer coisa hoje atrita rubro-negros e alviverdes. Irrita e futrica.
Pênaltis não marcados e discutíveis. Faltas que aconteceram e juiz deixou rolar. Muitos amarelos mostrados. Arranhões mostrados até demais.
Choros e cheiros. Mimimis e memes de todos os lados.
A graça da rivalidade às vezes perde a graça por procurar tanta desgraça.
Segue o jogo, amigos.
Lembrem a Copa União de 1988. Quando o Zetti quebrou a perna num choque com o Bebeto. No lance seguinte o atacante rubro-negro empatou, vencendo o goleiro-centroavante Gaúcho que teve de ir para a meta do Palmeiras.
Na disputa dos pênaltis regulamentares de um campeonato que impedia empates, Gaúcho defendeu um pênalti
do Zinho e outro do Aldair. Titulares tetracampeões do mundo seis anos depois.
Zinho bicampeão do Brasil pelo próprio Palmeiras em 1993 e 1994. Campeão do Brasil em 1992 pelo Flamengo ao lado do mesmo Gaúcho que defendeu o tiro penal dele em 1988.
A rivalidade é maravilhosa. Move a gente pra frente. Mas o ídolo de hoje pode ser o rival de amanhã. O adversário de ontem pode ser o nosso craque de amanhã.
Respeitar um pouco mais a história e as pessoas é melhor do que ganhar no grito ou se perder no choro.
O Zinho que tanto torcemos contra Gaúcho em 1988 é o pé direito que abriu a contagem em 12 de junho de 1993. O Gaúcho que tanto torcemos pela mão em 1988 é o mesmo que foi campeão rubro-negro em 1992. Trocando os pés pelas mãos. Trocando de camisa como quem troca de camisa.
Vamos desarmar espíritos, profissionais da bola e amadores do futebol.
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