A bola de todo ano
No para-brisa da memória hoje eu parei nessa boca de lobo vizinha dos meus avós. Foi lá numa noite de chuva de setembro de 1974 que a bola que eu acabara de ganhar de presente caiu do andar intermediário onde a gente jogava com vizinhos de prédio do meu Nonno e da Tata. Ela foi levada pela enxurrada até ali. Na época não havia essa grade. Ela não era grande e foi engolida pelo esgoto. Deu pra ver um chute inadvertido mandar a bola pra rua, de lá pra correnteza lambendo a guia até o destino final e fatal. Talvez seja a maior perda que tive na infância. Aquela bola novinha castigada e carregada pela chuva. Imagine quantos nunca perderam por nunca terem ganhado? Quantos não ganharam por não terem tido pais e nem avós? Quantos não ganharam por não terem tido paz e nem pátria? Quantos por não terem rua ou nada pra chamar de sua? Se essa é a maior perda daqueles anos incríveis, só posso agradecer por todos os meus anos. Todos os juntos com quem amo. Saudades dos que partiram levados pelas chuva. Saudades dos que lavaram e levaram minha alma até aqui. Um feliz 2018 para quem ainda pretende dar muitos chutes e perder muitas bolas. Para quem quer dar muitas bolas fora e dentro.
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