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Blog do Mauro Beting

A bola de todo ano

Mauro Beting

02/01/2018 09h08

No para-brisa da memória hoje eu parei nessa boca de lobo vizinha dos meus avós. Foi lá numa noite de chuva de setembro de 1974 que a bola que eu acabara de ganhar de presente caiu do andar intermediário onde a gente jogava com vizinhos de prédio do meu Nonno e da Tata. Ela foi levada pela enxurrada até ali. Na época não havia essa grade. Ela não era grande e foi engolida pelo esgoto. Deu pra ver um chute inadvertido mandar a bola pra rua, de lá pra correnteza lambendo a guia até o destino final e fatal. Talvez seja a maior perda que tive na infância. Aquela bola novinha castigada e carregada pela chuva. Imagine quantos nunca perderam por nunca terem ganhado? Quantos não ganharam por não terem tido pais e nem avós? Quantos não ganharam por não terem tido paz e nem pátria? Quantos por não terem rua ou nada pra chamar de sua? Se essa é a maior perda daqueles anos incríveis, só posso agradecer por todos os meus anos. Todos os juntos com quem amo. Saudades dos que partiram levados pelas chuva. Saudades dos que lavaram e levaram minha alma até aqui. Um feliz 2018 para quem ainda pretende dar muitos chutes e perder muitas bolas. Para quem quer dar muitas bolas fora e dentro.

Sobre o Autor

Mauro Beting é comentarista do Esporte Interativo e da rádio Jovem Pan, blogueiro do UOL, comentarista do videogame PES desde 2010. Escreveu 17 livros, e dirigiu três documentários para cinema e TV. Curador do Museu da Seleção Brasileira, um dos curadores do Museu Pelé. Trabalhou nos jornais Folha da Tarde, Agora S.Paulo e Lance!, nas rádios Gazeta, Trianon e Bandeirantes, nas TVs Gazeta, Sportv, Band, PSN, Cultura, Record, Bandsports, Foxsports, nos portais PSN, Americaonline e Yahoo!, e colaborou nas revistas Placar, Trivela e Fut! Lance. Está na imprensa esportiva há 28 anos por ser torcedor há 52. Torce por um jornalismo sério, mas corneta o jornalista que se leva muito a sério

Sobre o Blog

O blog fala, vê, ouve, conta, canta, comenta, corneta, critica, sorri, chora, come, bebe, sofre, sua e vive o nosso futebol. Quem vive de passado é quem tem história para contar. Ele tem a pretensão de dar reload no que ouvi e li e vi e fazer a tabelinha entre passado e presente para dar um toque no futuro.

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