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Blog do Mauro Beting

Frangos a Kiev com merengues no céu. Real Madrid 3 x 1 Liverpool

Mauro Beting

27/05/2018 04h33

KIEV – O 13 não é o número do azar para o Real Madrid. Só para rivais que tiveram a falta de sorte de enfrentar um adversário que é maior, melhor e é afortunado pelos deuses da bola e os azares de Karius. O goleiro alemão foi um burro no primeiro gol merengue. Foi um frango o terceiro. E foi indefensável o golaço magnífico de Balé tanto quanto é indefensável um goleiro pular numa bola com o braço recolhido como ele. Como parece ficar encolhido um adversário do Madrid em momento de decisão. Qualquer um. Mesmo um penta da Europa. Uma equipe que fez melhores atuações na Champions. Teve o melhor ataque da história numa edição.

Mas não foi a melhor em Kiev. Não é Madrid.

Para o bem das 13 conquistas do maior do mundo e da Europa. Para o Sergio Ramos. O maior zagueiro do mundo. O tricapitão campeão. O cara que eu queria no meu time e com o nosso espírito. Mas não para enfrentar como mal soube Salah com 29 minutos de bola rolando em um jogo até então igual e parelho – mas com domínio inicial inglês, com intensidade, pressão, boas trocas de bola, mas pouca inspiração de Firmino e do próprio artilheiro egípcio.

Ramos não foi para tirar Salah do jogo. Foi pra fazer falta, segurar o atacante em fase inspirada, intimidar o rival e exibir todo o repertório de um zagueiro fantástico, de um defensor às vezes com atitudes indefensáveis. Mas crucificar Ramos como se fosse um Karius em Kiev, não. Como Mané também – pelo conjunto da obra -poderia ter sido avermelhado. Como Ramos deveria ter sido amarelado no lance que definiu o clássico.

Nem a saída à seguida de Carvajal também por lesão e choro equilibrou animicamente o Liverpool que não chegou mais depois da perda de seu artilheiro e referência. Não lembro na história da Liga uma perda tão significativa. Diego Costa não era tudo para o Atlético de Madrid quando saiu no começo da decisão na Luz, em 2014. Salah foh para os Reds. Lallana de apenas 14 partidas na temporada é bom jogador. Mas não é Salah. Mané pela direita até conseguiu acompanhar mais o irrefreável Marcelo do outro lado. Mas, fora o gol de empate que faria com inegável oportunismo logo depois da abertura da contagem regressiva de Karius (o kaos "desorganizado" de Klopp), Mané pouco faria. Muito mais que um decepcionante Firmino. E que um discreto Milner. Os principais assistentes da Liga que apenas assistiram a mais uma noite daquelas europeias madridistas. Dias e décadas de Madrid.

Os últimos dias aqui na Ucrânia mostravam que os torcedores do Liverpool realmente nunca andavam e bebiam sozinhos. Hordas que lotaram o espaço deles no Olímpico e também no meio da torcida do Madrid fizeram um "You'll Never Walk Alone" tão pungente antes da decisão que até os merengues aplaudiram.

Mas um dos Reds foi deixado sozinho pelas companheiros ao final da partida. O que os deixou na mão no gol que não vi do guerreiro Benzema. Atacante francês que eu achava que merecia banco desde o início – ou Bale merecia a titularidade pelo que fizera nos últimos 4 jogos com 5 gols na Espanha. O melhor Bale em meses para cima de Robertson. Mas Zidane ama Benzema como Cristiano o prefere ao lado pra abrir espaços e correr por ele.

Feliz o treinador que deixa Bale como titular de segundo tempo. Ainda tem Asensio. Pode ter Lucas Vásquez. Não teve Cristiano em jornada das mais felizes – também por não estar parecendo tão feliz no Bernabéu como deixou claro ao final do jogo e da festa. Isco apagado. Mas ainda assim um time que troca a bola como Modric, passa como Kross, marca como Casemiro. Vence como Madrid. Merecendo sem contestação. Com o brilho de uma constelação que faz gols de bicicleta como Ronaldo contra Buffon. Como Bale contra Karius.

Time que tem pacto com a vitória como Ulreich bobeou no Bernabéu no gol de Benzema. Como Karius foi repor uma bola que não se vê na várzea. Como eu não vi no estádio. Fui anotar o lance que deu em nada quando ele defendeu a bola. Só fui vê-la no fundo da rede e da alma dos Reds depois do barulho incrédulo do estádio. Dor lancinante como a sentida por Salah e pelo Egito. O cara que carregou nos ombros seus times caiu sobre eles. Como a maldição sobre Karius.

No terceiro gol, a bola de Bale era sinuosa. Um bico de raiva de quem já havia feito um gol maravilhoso e que há um mês parecia mais fora do Madrid do que Karius dos sonhos do Liverpool. Não era um chute fácil. Exigia uma bola espalmada para longe. Não do jeito sem jeito com que o goleiro tentou defender. Ele que havia feito duas boas intervenções não é um grande goleiro. Melhor que Mignolet eu também sou. Mas para ser goleiro de um finalista da Champions, foi pouco. E foi demais.

No final da partida, Karius se jogou de bruços no gramado. Como se fosse uma cama para chorar. Só foi consolado por três rivais. Quando criou forças, levanto e se juntou aos companheiros desolados que não foram consolá-lo. Só quando ele foi pedir desculpas alguém chegou perto. Era tarde. Como ninguém parece chegar perto do Madrid nessas 63 finais: 13 vitórias, só 3 derrotas. Só o Real Madrid.

3 a 1 para um tricampeão que não se via na Europa desde 1976 e que foi mesmo melhor em Kiev. Como havia sido em Cardiff em 2017. Como acabou melhor em Milão no final de 2016. Como foi melhor em Lisboa na prorrogação em 2014. Como o texto já está enorme para falar de tantas finais. Mas nunca será suficiente para enaltecer um tridecampeão que você pode não aturar.

Mas necessita respeitar.

O 13 não é número da sorte, se sabe. Mas todo número e todo nome colado ao Real Madrid traz fortuna a quem é merengue.

Sobre o Autor

Mauro Beting é comentarista do Esporte Interativo e da rádio Jovem Pan, blogueiro do UOL, comentarista do videogame PES desde 2010. Escreveu 17 livros, e dirigiu três documentários para cinema e TV. Curador do Museu da Seleção Brasileira, um dos curadores do Museu Pelé. Trabalhou nos jornais Folha da Tarde, Agora S.Paulo e Lance!, nas rádios Gazeta, Trianon e Bandeirantes, nas TVs Gazeta, Sportv, Band, PSN, Cultura, Record, Bandsports, Foxsports, nos portais PSN, Americaonline e Yahoo!, e colaborou nas revistas Placar, Trivela e Fut! Lance. Está na imprensa esportiva há 28 anos por ser torcedor há 52. Torce por um jornalismo sério, mas corneta o jornalista que se leva muito a sério

Sobre o Blog

O blog fala, vê, ouve, conta, canta, comenta, corneta, critica, sorri, chora, come, bebe, sofre, sua e vive o nosso futebol. Quem vive de passado é quem tem história para contar. Ele tem a pretensão de dar reload no que ouvi e li e vi e fazer a tabelinha entre passado e presente para dar um toque no futuro.

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