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Blog do Mauro Beting

O melhor time da Copa, não da final. França 4 x 2 Croácia

Mauro Beting

15/07/2018 15h37

A França ocupou Moscou arrasada, incendiada e sem resistência em 1812. Para logo abandonar a cidade e o exército francês perder quase 400 mil dos 685 que fizeram a campanha na Rússia. Mais 50 mil feridos. 80 mil que desertaram. E a guerra perdida também para o clima. O inverno russo que deixou sem comida e sem agasalho a tropa pelo caminho.

No verão russo de 2018, a França não tinha um Napoleão no banco – nem o que fugiu quando o frio chegou. Embora Deschamps tenha sido o capitão mundial em 1998, não é o comandante e estrategista de banco da grande armeé em campo. Os marechais Mbappé, Pogba e Griezmann, os generais Kanté, Varane e Umtiti, são de alta patente pelo que conquistam como grandes combatentes. Não pelo plano que executam. Há inegáveis méritos em um treinador vencedor. Ainda mais um dos três que foram campeões em campo e banco como Zagallo e Beckenbauer desde 1930.

Mas a França que enfim conheceu a vitória sem contestação na Rússia é muito mais um time de jogadores do que do comandante. Um grupo que chegou forte e saiu vencedor. Mas dando sempre a impressão de que poderia ter deixado um legado maior na campanha na Rússia.

Deixa Moscou no verão e não será derrotada pelo inverno rigoroso. Mas por mais que seja ainda mais rigorosa esta cobrança, quando se tem o potencial desse time, tem como cobrar mais desse futebol que nos deu Fontaine e Kopa nos anos 50, Platini, Giresse e Tigana nos 80, Cantona antes da geração de Zidane, Thuram e Henry em 1998, grandes vices mundiais como Ribèry em 2006, e esta geração bicampeã que é vencedora antes da hora.

Com campanha irrepreensível. Apenas um empate na Copa (e no jogo que nada valia com os reservas contra a Dinamarca). Nenhuma prorrogação. Em 2014, a Alemanha passou por duas. Em 2010, a Espanha ganhou no tempo extra o título. Em 2006, a Itália teve duas e venceu o tetra nos pênaltis. Só em 2002 o Brasil foi 100% sem precisar de prorrogação.

A França foi o melhor time de 2018. Como o Brasil de 1994. Mas poderia ser melhor do que foi. Como a Seleção de Parreira nos EUA.

Na decisão, a França chegou cinco vezes e fez quatro gols. O que não acontecia em 90 minutos desde o Brasil de outro jovem de menos de 20 anos que conquistou mundo em 1958. Pelé. Rima que é seleção como Mbappé.

A Croácia começou melhor, buscando a vantagem que não teve nos três jogos anteriores. A França deu a bola e campo aos croatas para que eles se cansassem. E teve a fortuna de na primeira chegada abrir o placar, aos 17. Quando Griezmann cavou uma falta que eu não marcaria de Brozovic. O excelente francês mais uma vez cobrou com efeito. Desta vez não chegaram pelo alto nem os colossais Varane e Umtiti. Mas Mandzukic, guerreiro que não mereceria marcar contra o gol que abriu o placar que ele fecharia no final, aos 23, na única falha mundialista do excelente Lloris.

Qualquer outro time ficaria abalado. Menos a Croácia. Aos 27, talvez o melhor ambidestro do mundo mandou uma pancada de sem-pulo como se fosse o tiro rasteiro de Gerson na final de 1970. Golaço de Perisic. Justiça feita à valentia croata e a um certo cinismo francês. Não apenas na decisão.

Seguiu melhor a Croácia. Até o VAR dar o ar da desgraça aos 36. Bola na mão de Perisic que eu não vi como intenção de interceptar o lance. Nem movimento antinatural do croata. Eu não marcaria pênalti. Mas tem como discutir a definição de Nestor Pitana. A que definiria de vez a parada.

Griezmann tirou do goleiro e fez 2 a 1 na segunda chance francesa no primeiro tempo. A primeira criada pela arbitragem.

Na segunda etapa, a brava Croácia se atirou ainda mais. O jogo ficou mais aberto. Mas quem tem Pogba para lançar desde o meio-campo, Mbappé enfim acertar um lance pela direita, e Pogba bater com categoria no contrapé de Subasic, já não tinha mais jeito, aos 13. Aos 19, Mbappé bateu e já não tinha desculpa para Subasic. Como não teve para Lloris no gol da bravíssima Croácia. Equipe que criou o dobro das cinco chances francesas. Mas ficou pelo caminho brilhante que criou.

Mas trajetória que não foi melhor que o melhor time. Merecido campeão pelo que fez fez até a final. Não a decisão.

Sobre o Autor

Mauro Beting é comentarista do Esporte Interativo e da rádio Jovem Pan, blogueiro do UOL, comentarista do videogame PES desde 2010. Escreveu 17 livros, e dirigiu três documentários para cinema e TV. Curador do Museu da Seleção Brasileira, um dos curadores do Museu Pelé. Trabalhou nos jornais Folha da Tarde, Agora S.Paulo e Lance!, nas rádios Gazeta, Trianon e Bandeirantes, nas TVs Gazeta, Sportv, Band, PSN, Cultura, Record, Bandsports, Foxsports, nos portais PSN, Americaonline e Yahoo!, e colaborou nas revistas Placar, Trivela e Fut! Lance. Está na imprensa esportiva há 28 anos por ser torcedor há 52. Torce por um jornalismo sério, mas corneta o jornalista que se leva muito a sério

Sobre o Blog

O blog fala, vê, ouve, conta, canta, comenta, corneta, critica, sorri, chora, come, bebe, sofre, sua e vive o nosso futebol. Quem vive de passado é quem tem história para contar. Ele tem a pretensão de dar reload no que ouvi e li e vi e fazer a tabelinha entre passado e presente para dar um toque no futuro.

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