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Blog do Mauro Beting

A respeito dos clássicos e dos grandes. Com todo o respeito.

Mauro Beting

04/04/2019 17h05

Os Rolling Stones não lançam uma grande canção desde 1995. E foi um cover de "Like a Rolling Stone".

Eles deixaram de ser "grandes" por não fazerem mais hits e álbuns e "apenas" viverem do passado glorioso?

Não vendem como já venderam. Não venderam mais mesmo já tendo conquistado demais.

Mas seguem como todos os clássicos. Atemporais. De todos os tempos e quase todas as tribos, tribunas e tributos.

Como os Beatles, que penduraram as chuteiras em 1970. Como Pelé, em 1977.

Clássicos que não nascem clássicos. Viram clássicos. E não morrem se de fato são clássicos. Não acabam se são clássicos reais.

Podem perder força como um Beethoven hoje em dia. Um suspense de Hitchcock. Um livro de Steinbeck. Até o gosto pode não ser o mesmo como um filé à Chateaubriand. Como um Flamengo x America no Maracanã, um Portuguesa x Corinthians no Pacaembu, um Atlético x América no Mineirão.

Mas seguem clássicos. Sem a mesma rivalidade, intensidade, importância, tamanho, relevância, interesse. E renda.

Mas não e só renda. Não é só o que rende que tem preço, mas não valor.

Clássico, por definição, não deixa de ser clássico. Mas pode perder um monte de coisa. Não o epíteto. Jamais o respeito. Nunca o que já está nos anais.

Quem vive de passado é quem tem história.

Mas o caríssimo colega Rodrigo Capelo tem razões preocupantes para alertar os momentos delicados e o futuro incerto dos clubes grandes que ele não define mais assim. No que discordo. Mas entendo as razões que são necessárias em questões que não podem ser apenas emoções.

Alguns grandes hoje devem demais. Não têm hoje onde ganhar muito mais dinheiro. E nem como aumentar sua base de torcedores. Ou clientes que atraiam parceiros.

Claro que o jogo vira. Em 2013, o Palmeiras devia as sungas e tinha 90% da receita comprometida. Não fosse o presidente que administrou austero, emprestou como torcedor, e recebeu como investidor, não fecharia as contas em 2014. Quando ganhou nova casa de parceiro, explodiu de torcedores-sócios, ganhou patrocínio farto em 2015, mais grana de mídia em 2016, comprou o que não tinha e agora sobra, e desde então até planta pratas-da-casa que antes eram chumbos do berço.

O jogo pode virar. Mas em condições especiais. Em um mercado como São Paulo. Com uma torcida nacional do tamanho da do Palmeiras.

Não é toda hora. Não com todo grande.

Mas tem jogo que pode virar como a bola e as boladas que movem mundos e fundos como Chelsea, Manchester City e PSG.

Existem clubes que perdem força como Torino na Itália e Benfica na Europa. Outros que cresceram só na segunda metade dos anos 60 como o Bayern na Alemanha e nos 70 no mundo. Outros que viveram numa bolha esportiva e não econômica como o Nottingham Forrest na virada dos 70 pros 80.

Tem de tudo. E tem infelizmente quem talvez não volte mais para brigar nesse nível.

Mas ainda é clássico.

Grande. Enorme. Gigante.

Como foram as Indústrias Matarazzo. Mappin. TV Tupi. Bamerindus.

Outras empresas e marcas hoje em dificuldade. Quem sabe falidas e fechadas. Fadadas à história. Mas com letras garrafais e números de baciadas.

É da vida e dos negócios. Temos que admitir e até mesmo advertir.

Por questão semântica, histórica, esportiva e até de respeito e carinho, grande sempre será grande pra mim – ainda que se apequene pra todos. Menores podem crescer e chegar a esse patamar. Novas associações podem chegar lá como o jovem e já citado PSG.

É tudo um livro e jogo aberto.

Sobre o Autor

Mauro Beting é comentarista do Esporte Interativo e da rádio Jovem Pan, blogueiro do UOL, comentarista do videogame PES desde 2010. Escreveu 17 livros, e dirigiu três documentários para cinema e TV. Curador do Museu da Seleção Brasileira, um dos curadores do Museu Pelé. Trabalhou nos jornais Folha da Tarde, Agora S.Paulo e Lance!, nas rádios Gazeta, Trianon e Bandeirantes, nas TVs Gazeta, Sportv, Band, PSN, Cultura, Record, Bandsports, Foxsports, nos portais PSN, Americaonline e Yahoo!, e colaborou nas revistas Placar, Trivela e Fut! Lance. Está na imprensa esportiva há 28 anos por ser torcedor há 52. Torce por um jornalismo sério, mas corneta o jornalista que se leva muito a sério

Sobre o Blog

O blog fala, vê, ouve, conta, canta, comenta, corneta, critica, sorri, chora, come, bebe, sofre, sua e vive o nosso futebol. Quem vive de passado é quem tem história para contar. Ele tem a pretensão de dar reload no que ouvi e li e vi e fazer a tabelinha entre passado e presente para dar um toque no futuro.

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