Altair e o mal do nosso esquecimento
Fiapo era o apelido de Altair. Só Castilho, Pinheiro e Telê jogaram mais vezes pelo Fluminense do coração do lateral-esquerdo campeão mundial no Chile em 1962. Ele só foi Flu desde os 15 anos quando chegou nas Laranjeiras. O Vasco o quis ainda menino pelos treinos onde esbanjou regularidade e técnica como zagueiro. Mas ele queria o Tricolor. Tanto que a irmã forjou a assinatura do pai que não o queria jogador.
Vários clubes o quiseram quando virou lateral limpo e leal. Rei do carrinho. Mas ele só queria o Fluminense. Tanto que depois de ganhar 3 estaduais e 2 Rio-São Paulo, trabalhou no clube treinando meninos e auxiliando marmanjos. Como em 1966 também tentou ajudar jogando mais uma Copa. Mas essa era melhor esquecer pelo vexame brasileiro na Inglaterra.
Só que vergonha mesmo é quase ninguém lembrar dele. Altair morreu há uma semana. Em alguns estádios não teve minuto de silêncio. No enterro, apenas 18 pessoas. Nenhuma homenagem do Fluminense. Só Jair Marinho, companheiro de Flu e de Brasil em 1962, amigo de mais de 50 anos. Só uma coroa de flores da CBF.
Faz uma semana. E eu também só soube hoje que aquela simpatia que conheci há 10 anos partiu silencioso e discreto como era. Mas como não podemos deixar ser.
Esquecemos Altair. Como ele há quase 6 anos vinha esquecendo o que era. Na Copa das Confederações em Brasília ele se perdeu da comitiva. Foi encontrado por colegas jornalistas no meio da rua. Levado ao hotel, conta Alexandre Lozetti, ele falava que era campeão do mundo. E que ao ver as luzes bonitas da embaixada da Itália, comentou que ali poderia ser o novo estádio do Fluminense.
Altair sofria de Alzheimer. Esquecia muitas coisas. Mas jamais o Fluminense. A glória que o clube lhe deu dando ao Brasil o mundo.
E nós nem aí. A imprensa contando pouco. O clube, ainda menos. A CBF, o protocolar. Eu ainda me perguntando como jornalista, pesquisador, cidadão e ser humano como eu não sabia.
E como Altair, mesmo doente, ainda lembrava e respeitava mais do que todos nós.
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