Liberta! Ceará 0 x 1 Corinthians
O jogo em Fortaleza não foi grande coisa. Mais uma vez. O Ceará tenta mas esbarra nas limitações que ainda podem ser fatais na ainda mais provável permanência na Série A em 2020, depois do melhor Brasileirão desta década em nível técnico.
O Corinthians chega a mais uma Libertadores puxado pelo brilhante Flamengo campeão da América e pelo vibrante Athletico campeão da Copa do Brasil, mesmo atuando muitas vezes com os reservas no BR-19. Furacão que dará em 2020 o Corinthians o seu mais do que promissor comandante Tiago Nunes.
Para talvez fazer desse time tricampeão estadual em 2019 uma equipe que jogue partidas melhores. Mais vistosas. Mais competitivas que a campanha que a matemática e o regulamento levarão longe um Timão que não convenceu.
O que não é crime. É fato.
Em 2011, depois de eliminado bisonhamente pelo Tolima, o Corinthians virou o jogo e acabou pentacampeão brasileiro. Também no mesmo 4 de dezembro em que se classificou para a nova Libertadores.
Naquele domingo, na cabine do Pacaembu, escrevi o texto abaixo. Ainda emocionado pela perda do ídolo que virou colega e companheiro Sócrates.
O Dérbi decisivo do BR-11 começou quando o santista mais corintiano (e Brasileiro) que conheci estava sendo sepultado em Ribeirão Preto. E branco. Alvinegro. E campeão brasileiro de 2011.
Ribeirão Preto onde o doutor esteve comigo e Carlos Fernando na cabine do Sportv quando o Corinthians enfim venceu o Palmeiras, no SP-95, depois de perder o SP-93, o Rio-São Paulo-93 e e o Brasileirão-94 para o rival. Naquela tarde, no Santa Cruz que não viu craque como ele, o Magrão comentou com a perícia do doutor e a antevisão do craque a virada corintiana na prorrogação. Comentou e comemorou. Como, lá de cima, copo dos anjos na mão, está celebrando o penta de quem mais ficou na ponta. Do time que nem de perto lembra o da Democracia Corintiana. Mas que foi aquilo que o Flamengo de Zico não deixou, então, em 1982 e 1983: campeão brasileiro.
Não foi um time brilhante. Mas foi Corinthians por todas as superações. Alguém precisava ganhar o BR-11, talvez o mais emocionante por pontos corridos, certamente o pior em termos técnicos. Quem errou menos foi a banda de Tite. O time de Sócrates. Doutor honoris causa que perdeu mais que ganhou os 18 clássicos contra o Palmeiras, entre 1978 e 1983. Neles fez oito gols. Mas foi seminal nas semifinais do SP-83. Quando mesmo marcado individual e lealmente por Márcio Alcantara, fez os gols da classificação que dariam no bicampeonato paulista.
Sócrates que foi um craque que o Corinthians não teve em 2011. Mas se teve um time que mereceu ficar com o título foi aquele de arrancada histórica no início, derrocada preocupante no meio do campeonato, e confirmação consistente no final dele. Quando não jogava bem e ainda assim vencia. Quando não fez muito mais que os rivais. Mas fez com coração e coragem.
Foi campeão o time que teve um goleiro como Júlio Cesar que jogou contra o Botafogo, no Rio, quase dez minutos com osso do dedo quebrado e exposto! O Timão que perdeu seu capitão que segurou algumas buchas – mas se perdeu quando Chicão não quis ser banco contra o São Paulo, no Morumbi, e deixou a delegação (sem que o comandante Tite perdesse a razão e o comando com o episódio). Foi penta o time de Paulo André, que, com a mesma firmeza com quem se posiciona fora de campo, foi preciso dentro da área com o companheiro Leandro Castán. Um que passou quase todo o ano ouvindo que faltava um zagueiro melhor que ele – embora não tenha havido um zagueiro-esquerdo melhor que ele no BR-11. Foi campeão um time que perdeu um multicampeão como Roberto Carlos e achou em Fábio Santos o equilíbrio normalmente tão distante de um clube em ebulição – mas que soube manter o prumo mantendo Tite desde o vexame da Libertadores, passando incólume pela tormenta dos tropeços depois de início arrasador de Brasileirão.
Foi penta o time de Ralf, um volante como tantos, mas que pouco erra. Campeão o time de Paulinho, aquele que substituiu o "insubstituível" Elias, e foi o melhor volante do campeonato, para não dizer dos maiores atacantes corintianos. Foi o time de Willian, que aprendeu a se virar como meia no 4-2-3-1 que Tite herdou de Mano, e nao desaprendeu a fazer gols. Pentacampeão como o vencedor Danilo, sempre contestado, sempre campeão. O Timão de Jorge Henrique quae entra e sai do time, ganha e perde a razão, mas está mais uma vez dando volta olímpica. Como o tricampeão brasileiro por três clubes. Emerson Sheik de tantos cheques e choques dentro e fora de campo, mas inegavelmente vencedor.
Como Alex, que joga em todas, ainda não jogou tudo, mas ganha em quase todas. Como Liedson, que faz todos os gols calado como aguenta as dores no joelho. Goleador que superou a ausência insuperável de Ronaldo, e vai tolerando a presença ausente de Adriano. Caríssimo artilheiro de um só gol. Mas que gol!
Corinthians do Tite de fala mensa, pausada e pensada, mas também enérgio, poético, prático. Do Andrés que fala o que pensa, quase sempre não pensa no que fala, mas que faz como poucos em 101 anos, e pode fazer mais pela CBF onde vai trabalhar ainda mais do que já operou. Do Rosemberg que traz reais avanços fora de campo. Da estrutura do novo CT e das estruturas de Itaquera que reconstroem um novo Corinthians. Ainda corintianíssimo no que tem de certo e errado. Mas moderno como poucas vezes se viu na história do clube. Ainda que com práticas mais que discutíveis.
Não é um grande time campeão. Mas é um corintianíssimo campeão. Como foi a festa pentacampeã no Pacaembu que merecia um jogo melhor de título. Um empate sem gols e sem futebol como muitas decisões. Mas que ao menos poderia ter mais chances que as reles e ralas duas oportunidades para cada lado. E, com a boa vontade que faltou em algumas divididas: como a bobagem de Valdivia aos 2 minutos do segundo tempo (depois de um primeiro tempo palmeirense), que ajudou o Corinthians a voltar melhor, na única finalização perigosa, de Willian, aos 45 segundos da etapa final. Um Corinthians que voltou melhor, mas não tanto a ponto de criar muito mais – ainda que pressionado desde o gol vascaíno aos 28 do primeiro tempo.
Depois da expulsão de Valdivia, no recomeço de jogo, o gol do ex-corintiano Renato Abreu no Engenhão, aos 8 minutos do segundo tempo do Pacaembu, deixou tudo aos pés corintianos. Mas um pé alto de Wallace, que errou mais um lance e foi expulso aos 29, deixou tudo igual. Dez contra dez, o Corinthians jogava pelo empate suficiente, o Palmeiras parava nas limitações e no desejo de não perder para o rival. O jogo se arrastava até Jorge Henrique chutar o vácuo e enervar o rival, aos 44. Motivo para mais uma briga num jogo mais brigado que jogado.
Mas nada que tirasse o brilho da conquista, não do futebol apresentado pelos 20 times. Um campeonato ruim tecnicamente. Mas que teve uma reta final emocionante, sofrida, suada. Corintiana. Pentacampeã.
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